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Especialistas criticam projeto de São Paulo para usar IA nas aulas da rede pública

O planejamento das aulas virtuais para escolas estaduais de São Paulo pode passar por uma mudança significativa a partir deste ano.

A Secretaria de Educação paulista, sob a batuta do secretário Renato Feder, estuda implementar o uso de Inteligência Artificial para aulas do 9º ano do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio da rede pública. 

A informação foi confirmada pela pasta a CartaCapital, em nota, nesta quarta-feira 17.

Hoje, o material didático é produzido por professores especializados, os chamados de curriculistas, especialistas na elaboração desse tipo de atividade pedagógica. 

Com a mudança, diz a Secretaria, as aulas desenvolvidas por estes professores serão “aprimoradas pela IA”. Essa interferência envolverá, por exemplo, a inserção de novas propostas de atividades, exemplos de aplicação prática do conhecimento e informações adicionais “que enriqueçam as explicações de conceitos-chave de cada aula”. 

Na sequência, o conteúdo deve ser reavaliado e editado pelos professores curriculistas, que serão responsáveis também pelo encaminhamento do material para uma equipe interna da secretaria responsável pela revisão final.

Esses sistemas, conhecidos como LLMs (sigla para large language models, ou modelos de linguagem de grande escala) tem se mostrado capazes imitar com precisão a linguagem natural humana – mas não são, de fato, inteligentes. A partir de grandes volumes de dados e a capacidade de fazer bilhões de cálculos por segundo, os LLMs são ‘treinados’ e ‘aprendem’ padrões para responder perguntas, criar conteúdo e interagir.

A proposta é vista com maus olhos por professores e especialistas em educação. “É o ápice da desprofissionalização docente”, critica Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. “Em termos pedagógicos, nenhuma inteligência artificial é capaz de substituir a experiência em sala de aula que pauta o trabalho do curriculista.”

Na mesma linha, a pedagoga Sofia Lisboa, da Unicamp, vê no projeto uma armadilha. “É mais uma maneira de desvalorizar material e simbolicamente os profissionais da educação, além de comprometer a qualidade do material”. 

Esses especialistas temem ainda que o processo termine por favorecer as empresas donas de modelos de inteligência artificial, colocando milhares de docentes da rede pública para, sem remuneração, ‘treinar’ estes sistemas. “Os curriculistas agora perderão seu tempo corrigindo e treinando a ferramenta de inteligência artificial”, alerta Cara.

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