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O que aconteceu depois de a principal cidade da Venezuela perder 25% de seus habitantes?

Cerca de um quarto dos moradores da segunda maior cidade do país, Maracaibo, foi embora — e logo mais cidadãos deverão seguir o mesmo caminho após a controversa vitória de Maduro

No passado uma metrópole pujante no centro da região produtora de petróleo na Venezuela, aquela Maracaibo deixou de existir. Hoje a cidade é repleta de casas abandonadas — algumas parecem ter sido alvo de bombardeios, porque os proprietários arrancaram janelas e telhas para vender como entulho reciclável antes de partir em jornadas para a Colômbia, o Chile e os Estados Unidos. Jardins com o mato crescido diante das casas dos bairros de classe média estão cheios de cartazes de venda.

Menos carros circulam nas ruas, e menos criminosos espreitam para assaltá-los. Jantares de Natal, antes lotados de parentes ruidosos, viraram eventos solitários diante de webcams.

Cerca de 8 milhões de venezuelanos — mais de um quarto da população de seu país — emigraram nos anos recentes, expulsos pela miséria econômica e a repressão política.

Em nenhuma outra região da Venezuela esse êxodo foi tão impressionantemente acentuado quando em Maracaibo, que foi esvaziada pela perda de aproximadamente 500 mil de seus 2,2 milhões de habitantes — muitos deles jovens ou adultos com menos de 40 anos. (O índice populacional tem como base pesquisas, já que o governo não realiza um censo oficial há mais de uma década.)

“O primeiro golpe que sentimos é a solidão”, afirmou o prefeito de Maracaibo, Rafael Ramírez. “É devastador. Isso nos afeta emocionalmente.”

Localizada no oeste da Venezuela, Maracaibo segue sendo a segunda maior cidade do país e tem sido agredida por uma economia em colapso, apagões rotineiros e persistentes faltas de gasolina e água.

Muitos adultos economicamente ativos partiram em busca de trabalho em outras partes e deixaram os filhos em casa até que consigam se estabelecer com mais firmeza, entregando para os avós a responsabilidade de criá-los.

“Neste momento, somos um país de velhos”, afirmou Antonio Sierra, de 72 anos, sentado na poltrona de sua sala de estar e olhando através de uma janela de onde se vê muitas casas vazias em seu quarteirão.

Os três filhos adultos de Sierra foram embora. Um deles deixou para trás um bebê, Rafael, hoje com 7 anos. Em 2023, até os professores do menino partiram. Sierra e outros avós fizeram vaquinha para pagar US$ 2 por semana para um professor substituto assumir o 1.º ano.

Maracaibo prepara-se agora para outra onda de emigração, que deve ocorrer nos próximos meses, após o país mergulhar na instabilidade que se seguiu à eleição nacional, em julho, que o autocrático presidente venezuelano, Nicolás Maduro, declarou ter vencido apesar das atas de votação comprovarem que ele perdeu decisivamente.

Seu governo lançou uma campanha brutal contra qualquer um que conteste os resultados eleitorais. E com os EUA entre os muitos países que rejeitaram a declaração de vitória de Maduro, as sanções econômicas de Washington que aprofundaram o sofrimento econômico na Venezuela não deverão ser aliviadas tão cedo.

Uma emigração massiva de médicos, enfermeiros, agentes sanitários e motoristas de ônibus — profissionais cada vez mais em falta na Venezuela — seria ainda mais brutal em Maracaibo, de onde tantos venezuelanos que trabalhavam nessas áreas já partiram.

Ramírez tem saudade do tempo em que empresas organizavam conferências em Maracaibo e a estatal petroleira da Venezuela produzia tanto em um lago próximo à cidade que seus trabalhadores desfrutavam de um padrão de vida confortável.

“Era uma cidade petroleira, uma cidade que tinha um centro de convenções para todas as indústrias, pessoas e a indústria petroleira virem para cá”, afirmou Ramírez. “Aquela cidade não vai voltar, mas tem de ser reinventada.”

A acentuada elevação na emigração de Maracaibo, afirmou o prefeito, começou por volta de uma década atrás. Seguiu-se ao colapso da estatal petroleira, causado por corrupção, falta de investimento e expurgos políticos de funcionários capacitados — e exacerbado pelas sanções dos EUA.

Um enorme apagão que atingiu todo o país em 2019 desencadeou dias de saques em Maracaibo e provocou ainda mais instabilidade. O Estado de Zulia, onde fica Maracaibo, faz fronteira com a Colômbia, facilitando para pessoas que não conseguem pagar por passagens aéreas partir a pé. (A luz acabou novamente na última sexta-feira, 30, quando um grande apagão cortou o fornecimento de eletricidade em todo o país.)

Uma pesquisa recente, encomendada pela Câmara de Comércio em Zulia, mostrou que aproximadamente 70% das famílias entrevistadas têm algum parente vivendo no exterior.

Pelo menos metade dos entrevistados em outra sondagem, encomendada pelo prefeito de Maracaibo, afirmou que pretende partir, um número consideravelmente mais alto do que o índice genérico no país, de 30% de entrevistados que expressaram desejo de ir embora, afirmou o consultor político Efraín Rincón, que conduziu as pesquisas.

“Diante desta nova realidade, nós vemos que a proporção de idosos está aumentando, mas não organicamente — não porque há mais pessoas velhas”, afirmou Rincón. “Isso ocorre porque há menos jovens.”

Muito estava em jogo na eleição de 28 de julho, quando Maduro enfrentou Edmundo González, um diplomata aposentado que assumiu o lugar da candidata mais popular da oposição, que foi impedida pelo governo de concorrer.

Atas impressas por máquinas de votação e coletadas por observadores eleitorais mostraram que González venceu com ampla vantagem. O governo diz o contrário. Contudo, mais de um mês depois da eleição, as autoridades venezuelanas ainda não revelaram os resultados em níveis distritais.

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