Uma cidade cinza

A fumaça intensa tomou conta de Manaus há vários dias, comprometendo a saúde do povo, especialmente das crianças, ofuscando até mesmo o sol e empalidecendo as cores da cidade.

Não podemos jamais banalizar a situação atroz, tomar como normal o ar poluído por queimadas, tão comuns nesta época. É preciso preparar o solo para plantio, de pasto, soja, milho ou outra cultura necessária ao crescimento do agro, que não pode parar. Mas a salubridade do ar

também não pode, a saúde das pessoas não pode parar, a floresta e seu frágil equilíbrio não podem parar. É preciso chegar a um consenso.

Recentemente, no Sul do Estado, onde a fumaceira é ainda pior que em Manaus, com qualidade do ar beirando o irrespirável, fazendeiros manifestaram sua convicção: a floresta tem que ser preservada, mas não no Sul do Estado, que precisa produzir alimentos.

Trata-se de uma falsa dicotomia: é perfeitamente possível produzir alimentos e preservar a natureza, é possível investir em agricultura e pecuária sem contaminar o ar com tanta fumaça oriunda de queimadas.

Acerta a Defensoria do Estado (DPE-AM) ao determinar que o governo instale uma sala de situação para monitorar as queimadas e detalhar as medidas adotadas ou a adotar.

A responsabilidade do Estado é evidente, e a atuação do poder público é tão essencial quanto insuficiente. O fim da fumaceira não é um problema de fácil solução. requer a adoção de um novo, sustentável e moderno modelo de desenvolvimento, algo que não se faz da noite para o dia.

É uma pena que o escritor Márcio Souza, um dos maiores pensadores do Amazonas e da Amazônia, tenha sido velado e sepultado com a cidade coberta de fumaça. O tênue equilíbrio entre natureza e desenvolvimento permeou sua obra. Todos merecemos ar puro, saudável, e uma cidade na plenitude de suas cores.

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