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Dia da Consciência Negra: na política, vereadores negros representam menos de 4% do parlamento no Vale e região

O dia 20 de novembro, há 20 anos, tornou-se uma data dedicada à reflexão da importância da população negra para o país. Foi em 2003 que o Dia da Consciência Negra foi instituído oficialmente no país.

No Brasil, a população negra representa pouco mais de 10,6% do total de habitantes, segundo os dados do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na política, no entanto, esse número ainda é pequeno e, no Vale do Paraíba e na região bragantina, essa baixa representatividade ganha um destaque ainda maior: apenas 3,77% dos parlamentares eleitos nas últimas eleições municipais se declararam pretos.

De acordo com o levantamento feito pelo g1, o percentual de menos de 4% significa que, dos 584 vereadores eleitos nas urnas em 2020, somente 22 se declararam da cor preta.

Além disso, das 46 câmaras municipais, somente 17 possuem algum parlamentar declarado negro, sendo que, desse total, somente cinco legislaturas têm mais de um vereador da cor preta (veja lista abaixo).

Cidades com vereadores declarados negros

CâmarasVereadores negros
Aparecida2
Atibaia1
Bananal1
Bragança Paulista2
Caçapava1
Cachoeira Paulista1
Campos do Jordão1
Canas1
Caraguatatuba1
Cruzeiro1
Guaratinguetá1
Ilhabela2
Jacareí2
Lavrinhas2
Potim1
Queluz1
São José dos Campos1
Total22

Fonte: TSE

Outras cores

De acordo com o levantamento, os parlamentares que se declararam negros só não são menor número do que os que declararam ser da cor amarela.

Isso porque, dos 584 eleitos em 2020, somente dois — em São José dos Campos — afirmaram ser da cor amarela, sendo as únicas declarações de parlamentares eleitos nas 46 cidades da região.

A maior parte dos vereadores eleitos na região se declararam brancos: 487 — número que representa 83,4% do total de eleitos em 2020.

Como se dividem os vereadores na região (por cor declarada)

Ao todo, 584 parlamentares foram eleitos nas 46 cidades da região em 20204874877373222222BrancaPardaPretaAmarela0100200300400500600

Fonte: TSE

Análise

Para o cientista político e professor da Unitau, Moacir dos Santos, as dificuldades enfrentadas pelos negros no passado e atualmente explicam um pouco do reflexo na baixa representatividade política.

“A reduzida representatividade de pessoas que se declaram pretas entre os candidatos eleitos para as câmaras de vereadores na região está relacionada à histórica desigualdade de oportunidades e à própria desigualdade social e econômica presente no Brasil. A população afrodescendente enfrenta barreiras significativas quanto à mobilidade social e ao acesso a posições políticas necessárias para a formulação de políticas públicas necessárias a criação de mecanismos adequados à redução dos efeitos da desigualdade social e econômica, bem como ao enfrentamento do racismo”, explicou.

Segundo o especialista, nos últimos anos, contudo, a implantação de políticas públicas voltadas aos negros tem tentado ajudar a melhorar esse cenário.

“Nas últimas décadas foram formuladas e implantadas políticas públicas para o enfrentamento das diversas formas de restrição de direitos e de representatividade dos negros no Brasil. A política de cotas para o acesso as universidades públicas e também para assegurar o direito a concorrer a cargos eletivos indicam que o Estado brasileiro tem buscado assegurar condições para o alcance da equidade social”, disse.

Apesar dessas políticas, segundo ele, o caminho ainda é longo para que haja uma maior representatividade dos negros na política e demais setores da sociedade.

“Ainda há um longo percurso para se assegurar oportunidades efetivas para a população negra brasileira. A maior representatividade dos negros na política e em outros setores da sociedade brasileira será assegurada com a manutenção e aprimoramento das políticas públicas relacionadas à promoção da equidade social e econômica e da representatividade política”, finalizou.

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