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Moradores de Louisiana, nos EUA, são obrigados a abandonar suas casas por causa do aquecimento global

Populações obrigadas a abandonar suas casas, a deixar o lugar onde vivem por causa do aquecimento global, são os refugiados do clima. Uma realidade que tende a se tornar cada vez mais dramática, na era dos extremos que o planeta enfrenta. As correspondentes Candice Carvalho e Lariza Relvas foram a Louisiana, nos Estados Unidos, a terra habitada durante décadas por uma comunidade foi tomada pela água.

John Bourg vive nos canais da Louisiana há 56 anos. Pescador, ele viu as mudanças acontecerem.

“Sim, aqui existia uma estrada. Esta baía não era aberta. Isto tudo era terra, do lado esquerdo também. Terra firme”, explica John.

Com o aumento do nível da água, muitas ilhas desapareceram. Barreiras naturais entre o mar e o continente, as comunidades ficaram expostas ao maior golfo do mundo. As águas quentes do Golfo do México são como uma incubadora para furacões.

O diretor do Centro de Recuperação da Costa da Louisiana, Bren Haase, explica a situação da região. “Nossa costa está afundando com uma erosão crônica. Estamos sofrendo os impactos de mudanças climáticas, com tempestades mais fortes e mais frequentes. Em 2021, por exemplo, o furacão Ida engoliu 274 km² da nossa costa”.

Da Ilha de Jean Charles, 98% do local está hoje debaixo d’água. Do território original, só sobrou 2% . Em 2022, Chris Brunet teve que deixar a casa em que nasceu para trás. “A casa foi construída em 1961 a apenas 30 cm do chão. Em 2003 tivemos que levantar a casa para a altura que está hoje”, conta.

Reassentamento dos moradores

Os traços de abandono estão por todos os lados. Dos 400 habitantes, restam três famílias vivendo no local. A ilha, que tinha 90 km², hoje tem apenas um quilômetro e 300 metros de extensão. Tão pequena, que em 3 minutos de carro, dá para chegar de uma ponta a outra.

Bren explica que mudanças feitas pelo homem também contribuíram para o cenário atual. A grande inundação de 1927 foi um dos maiores desastres naturais do país. O Rio Mississippi, o maior dos Estados Unidos, transbordou matando mais de 1000 pessoas e deixando quase um milhão sem moradia.

“Pra que aquilo nunca se repetisse, foi autorizada a construção de diques de contenção do Rio Mississippi. Mas uma das consequências foi que os diques acabaram isolando o rio. E na primavera, a água que levemente transbordava e levava sedimentos que ajudavam a sustentar o solo da costa da Louisiana, ficou presa no rio. A falta de sedimentos, desde os anos 1950 têm causado a perda do solo numa velocidade alarmante”, diz Bren.

Além disso, canais abertos para a exploração de petróleo trouxeram ainda mais água para perto das comunidades costeiras.

Kelvin Hill é diretor do programa de moradia do estado da Louisiana e sua equipe trabalha diretamente no plano de reassentamento para os moradores da ilha de Jean Charles. O orçamento foi de US$ 48 milhōes, o primeiro projeto para refugiados climáticos feito pelo governo americano.

“Tivemos que ganhar a confiança da comunidade. Eles estavam preocupados em perder sua história, sua ancestralidade, as coisas que tradicionalmente são importantes para eles”, relata Kevin.

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