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Nísia mantém discurso sem brilho, e operação para salvar ministra da Saúde expõe fragilidades

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, manteve a fala desanimada apesar dos esforços do governo para que ela mudasse seu estilo e defendesse a gestão federal com maior contundência.

O discurso de cerca de 40 minutos que fez na última segunda-feira (8) mostrou que o treino dado dias antes e as cobranças do presidente Lula (PT) não funcionaram.

A entrevista coletiva no Palácio do Planalto era uma daquelas marcadas pelo petista para ampliar a visibilidade do trabalho do Executivo em setores-chave e fortalecer a atuação do ministro da respectiva área.

O evento fez parte da operação desencadeada pelo presidente para salvar Nísia das investidas de Arthur Lira (PP-AL) e do Centrão e mantê-la no cargo. Ela está na berlinda devido a críticas de parlamentares pela falta de traquejo político e problemas na distribuição de emendas.

Também há contestações no governo por problemas da pasta e pela timidez em defender a atuação do Executivo em um dos ministérios que mais afetam a população.

Dias atrás, o marqueteiro do PT na eleição de 2022, Sidônio Palmeira, se reuniu com Lula no Palácio da Alvorada para discutir como melhorar a comunicação do governo e, depois, seguiu para o Ministério da Saúde para dar dicas a Nísia sobre como melhorar sua imagem.

Dias antes, em meio ao esforço do presidente para o governo comunicar melhor suas entregas, o marqueteiro havia dado uma palestra ao alto escalão do Executivo e afirmou que “comunicação sem amor, vontade, tesão, sem brilho não vai a lugar nenhum”.

A mesma orientação, aparentemente, não foi dada a Nísia —ou, ao menos, ela não conseguiu cumpri-la. Após a reunião com Palmeira, foi convocada a entrevista coletiva da ministra ao lado de Lula no Planalto.

A ideia era explorar o conhecimento técnico de Nísia, que foi presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), para mostrar seu trabalho e tentar ofuscar os problemas da pasta, como a dificuldade para combater a dengue, a morte de yanomamis e os problemas nos hospitais do Rio de Janeiro. No entanto, a emenda saiu pior do que o soneto.

A ministra fez um discurso inicial de mais de 40 minutos, com uma apresentação burocrática, cheia de números e letras miúdas para a plateia ler.

A notícia, ao final, não foi a explanação de Nísia, mas as entrelinhas da fala do presidente. Lula elogiou a ministra, mas disse que ela “fala manso” —não grosso, como havia cobrado— e discursa “sem passar entusiasmo”.

“Seu jeito delicado de falar sem rompante, sem tentar passar entusiasmo além do necessário, você consegue falar com alma e consciência das pessoas”, disse.

Este não foi um movimento isolado na operação para salvá-la. Nas últimas semanas, Nísia ampliou a exposição pública, demitiu parte da equipe e fez acenos ao mundo religioso.

A operação para fortalecer a ministra, porém, teve o efeito contrário. As entrevistas expuseram sua dificuldade para vender o peixe do governo. As demissões evidenciaram que os problemas de gestão, de fato, existem. E a sua imagem, na verdade, ficou mais frágil.

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