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‘No momento mais difícil da minha vida, a educação foi libertadora’, diz detento que passou em 1º lugar em Direito na UFRN

“No momento de mais dificuldade na minha vida, a educação foi esse libertador, esse transformador. Devo isso a ela”.

A afirmação é do detento que passou em 1º lugar no curso de Direito da UFRN nas vagas para cotistas no Sisu deste ano. Ele, que preferiu não ser identificado, concedeu entrevista para a Inter TV Cabugi (veja reportagem acima).

Preso há quatro anos na Penitenciária Rogério Coutinho Madruga, em Nísia Floresta, na Grande Natal, o detento estudou para o Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL) dentro da cadeia, onde é considerado um preso de bom comportamento, segundo a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap).

Aprovado em primeiro lugar, o apenado de 38 anos diz acreditar na ressocialização e quer servir de exemplo para outras pessoas dentro do presídio.

“Eu não só acredito, como eu, de alguma forma, gostaria de ser um representante, um exemplo disso. Eu devo isso às pessoas que estão aqui e que estão lutando por uma oportunidade. Fica uma coisa muito grande por esse aspecto, porque eu não posso desistir, porque eu sei que eu represento de alguma forma essas pessoas que estão querendo mudar”, diz.

“Se eu não acreditasse, eu caminharia por um caminho individual, me desvinculando delas, Mas eu preciso me enxergar como alguém que enxerga essas pessoas que estão lutando por oportunidades”.

Apenado está detido desde fevereiro de 2019 — Foto: Pedro Trindade/Inter TV Cabugi

Apenado está detido desde fevereiro de 2019 — Foto: Pedro Trindade/Inter TV Cabugi

Além do bom comportamento, o detento trabalha durante 6 horas do dia na cozinha e no refeitório da penitenciária e ainda estuda. Por conta disso, tem tido direto à remição da pena, que é de 15 anos – por tráfico de drogas e associação para o tráfico. A cada dia de trabalho ou 8 horas de aula, um dia de pena é reduzido.

Antes mesmo da aprovação na UFRN, a previsão já era de que ele progredisse para o regime semiaberto neste mês de março, o que vai possibilitá-lo estudar presencialmente o curso de Direito.

Em nota, a UFRN afirmou que para ingressar na instituição tem que atender aos critérios exigidos no sistema de seleção unificada, o Sisu, e que não é informada sobre os antecedentes criminais dos aprovados. A universidade destacou ainda que o aluno já está matriculado e que não faz distinção entre os ingressantes.

‘Queria abraçar minha mãe’

O apenado disse que se surpreendeu quando soube do resultado e que tudo que desejou naquele momento foi estar perto da família e abraçar a mãe.

“Quando eu recebi a notícia, eu fiquei em choque, positivamente falando. A primeira sensação que me veio é que eu queria estar perto da minha família para abraçar minha mãe, porque eu sei que ele está impactada com tudo isso”, contou.

“Eu queria muito abraçar ela na hora, dizer que eu sou muito grato. E por mais que em algum momento pareça que não, fiz valer aquilo que ela me ensinou”.

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