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A trama de oito assassinatos e torturas que assombra a política em Goiás

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Fonte: https://apublica.org/2023/09/a-trama-de-oito-assassinatos-e-torturas-que-assombra-a-politica-em-goias/

Oito assassinatos, um suposto suicídio, dez policiais militares presos e um ponto de interrogação sobre o motivo e o mandante do crime que está na origem do banho de sangue. A trama que começou a ser desvendada pelo Ministério Público (MP) e pela Polícia Civil de Goiás na última terça-feira (19), com a deflagração da Operação Tesarac, é uma das mais covardes na longa crônica da violência policial em Goiás, mas não fica por aí. Ela joga sombras sobre a política de Goiás, em especial o campo da direita e o governo estadual.

A história começa na noite de 23 de junho de 2021, quando o representante comercial e militante político Fábio Alves Escobar Cavalcante, de 38 anos, tomou um táxi para se encontrar com um homem chamado “Fernando” que havia entrado em contato com ele supostamente interessado em vender uma lavanderia no bairro Jamil Miguel, em Anápolis (GO). Escobar, que trabalhava no ramo de lavanderias, contou ao taxista que queria vistoriar o imóvel e, por isso, estava indo em direção ao vendedor. Encontrou uma emboscada. Não havia Fernando nenhum. Assim que saiu do táxi, foi atingido com quatro tiros disparados por dois homens que saíram de um Fiat Uno com os rostos cobertos por balaclavas. Ainda foi socorrido pelo taxista, mas morreu logo que chegou ao hospital.

A morte de Escobar chocou o meio político de Anápolis, o terceiro município mais populoso de Goiás, com 398 mil moradores, localizado a uma hora de carro da capital, Goiânia. A vítima teve um papel de destaque na vitoriosa campanha da direita em Anápolis em 2018. Segundo diversas publicações na imprensa, Escobar foi um dos coordenadores municipais da campanha do então senador Ronaldo Caiado (União Brasil) ao governo de Goiás. Caiado foi apoiador de Jair Bolsonaro em 2018 e 2022. 

Fábio era filho de José Escobar, que foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Anápolis por duas vezes, em 1987 e 1993. Nos anos 1980, José pertenceu ao PMDB, que fez oposição à ditadura militar, mas seu filho rumou para a campanha da direita em 2018.

Logo após a posse de Caiado, Fábio Escobar passou a criticar publicamente o novo governador. Em março de 2019, Escobar disse que “Caiado despreza as pessoas sem estudo. Nem todo mundo é filho de fazendeiro e tem oportunidade de fazer faculdade de medicina”. Ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR) nos anos 1980, Caiado também é médico. Em outra entrevista, Escobar disse que Caiado “deveria desligar as turbinas da vaidade”.

Em entrevista concedida em fevereiro de 2019 ao site Goiás24horas, Escobar levantou dúvidas sobre o comando do DEM em Anápolis ao dizer que pediu para ver a prestação de contas da campanha de 2018, mas não teve sucesso. Dias depois, disse que tinha “dúvidas quanto às doações legais na campanha do DEM em Anápolis”.

Em maio de 2019, Escobar divulgou um vídeo em redes sociais no qual afirmou ter recebido “uma tentativa de suborno” de R$ 150 mil sob a condição de “ou pega ou morre”. Ele disse que logo em seguida devolveu o dinheiro.

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