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Apostas, reviravoltas e ‘senhor bonitão’: conheça mais sobre a carreira política do socialista Sánchez

No poder desde 2018, o líder do Partido Socialista Operário da Espanha (PSOE) Pedro Sánchez conquistou a reeleição nesta quinta-feira, após obter maioria absoluta para sua investidura. Sob aplausos e aclamações, o anúncio feito pela presidente da Câmara, Francina Armengol expõe uma carreira política frenética, estrondosa e recheada de apostas. A mais recente causou um furacão no país, mas também lhe garantiu mais quatro anos no poder: a anistia concedida aos condenados por participar da tentativa de independência da Catalunha, em 2017.

“Aprendi a me esforçar até o apito final”, escreveu o líder do PSOE e antigo jogador de basquete em sua autobiografia, de 2019, “Manual da Resistência”. Considerado politicamente morto depois de o seu partido ter sofrido uma derrota nas eleições locais e regionais de maio, o homem de 51 anos — conhecido como “El Guapo” ou “Senhor Bonitão”, em português, no início da sua carreira política e agora um dos poucos socialistas a chefiar um governo europeu — fez de tudo tudo para manter o cargo que ocupa desde 2018.

Com um sorriso sedutor e uma personalidade afável, Sánchez já foi descartado politicamente em várias ocasiões, mas acabou se recuperando. Saiu da obscuridade em 2014 como um deputado pouco conhecido para tomar as rédeas do mais antigo partido político de Espanha. Primeiro premier da Espanha a ser fluente em inglês, Sanchez promoveu uma série de reformas de esquerda e dirigiu um governo com o maior número de mulheres da história.

Embora os seus Socialistas tenham ficado em segundo lugar nas eleições gerais de 23 julho, atrás do conservador Partido Popular (PP), liderado pelo seu opositor, Alberto Núñez Feijóo, Sánchez conseguiu reunir uma maioria no parlamento com o apoio do partido de extrema-esquerda Sumar, que já fazia parte da coligação do governo, através de um “acordo pragmático”, e de partidos regionais menores, incluindo o dos separatistas catalães, o Junts, liderado por Carles Puigdemmont.

Em troca do seu apoio na votação desta quinta, os dois principais partidos separatistas da Catalunha exigiram uma anistia controversa para centenas de pessoas que enfrentam processos judiciais, principalmente devido ao seu papel na tentativa falha de independência da região nordeste, em 2017. Puigdemmont, que liderou a secessão, teve que se exilar em Bruxelas — a anistia deve permitir seu regresso à Espanha.

Sanchez se opôs anteriormente à essa medida. Agora, concordou com a anistia, apesar dos grandes protestos da direita e da ultradireita, que o acusam, sem meias palavras, de estar disposto a tudo para permanecer no poder. O pacto foi celebrado pelos socialistas como uma “oportunidade histórica para resolver um conflito que só pode ser resolvido através da política”, segundo Santos Cerdán, do PSOE, à imprensa, no dia em que o acordo foi fechado.

‘Talento político’

Nascido em Madrid no dia 29 de fevereiro de 1972, em ano bissexto, Sanchez cresceu no seio de uma família abastada, filho de pai empresário e mãe funcionária pública. Estudou Economia antes de obter um diploma de mestre em Economia Política na Universidade Livre de Bruxelas. Fez doutorado em uma universidade privada espanhola e foi acusado de ter plagiado sua tese, o que ele nega. Sempre imaculadamente vestido, o político telegênico — que gosta de correr e se impõe aos seus rivais com seus 1,9 metros de altura — tornou-se conhecido por ser teimoso e tenaz.

Militante do PSOE desde a adolescência, um então quase desconhecido Sánchez foi eleito para a liderança do partido em 2014, após as primeiras primárias realizadas nessa legenda centenária. Dois anos e três meses depois de ser eleito foi expulso da liderança por ter conduzido os socialistas às suas piores derrotas eleitorais da história, em 2015 e 2016. Graças ao apoio dos militantes, recuperou o seu cargo nas primárias de maio de 2017, sete meses depois, após uma campanha de angariação de apoios que atravessou o país no seu Peugeot 2005, ao lado de alguns apoiadores, para seduzir os socialistas de base, que o trariam de volta à liderança do partido. Sánchez tem uma fé inabalável no seu sucesso, costumam dizer seus colegas.

Em apenas um ano, o pai de duas adolescentes assumiu o cargo de primeiro-ministro em junho de 2018, após uma aposta ambiciosa que o levou a derrubar o líder conservador do Partido Popular, Mariano Rajoy, através de uma moção de censura, junto com toda a esquerda, além dos separatistas bascos e catalães. O PP, partido de Rajoy, foi condenado pela Audiência Nacional do país por envolvimento em um esquema de corrupção. Nos últimos cinco anos, Sánchez teve que jogar um delicado ato de equilíbrio para se manter no poder.

Em fevereiro de 2019, a frágil aliança entre as facções de esquerda e os partidos pró-independência basco e catalão que o tinham catapultado para o cargo de primeiro-ministro cedeu, levando-o a convocar eleições antecipadas. Ainda que os socialistas tenham vencido, não obtiveram a maioria absoluta e Sánchez não conseguiu obter apoio para se manter no poder, convocando novas eleições no final do ano.

Apesar de ter batido o pé dentro do seu próprio partido, o socialista foi forçado a um casamento de conveniência com o partido de esquerda radical do Podemos — ainda assim, ficou convencido de que o então líder do partido, Pablo Iglesias, o deixaria governar sozinho. Conseguiu se manter no poder, embora sua coligação tenha apenas uma minoria no parlamento.

Durante o mandato conseguiu promover um amplo conjunto de reformas, como o aumento de quase 50% do salário mínimo, uma reforma do mercado de trabalho e da previdência e a lei que reabilita a memória das vítimas da Guerra Civil (1936-39) e da ditadura de Francisco Franco (1939-75). Mas, o socialista teve que enfrentar várias polêmicas com a esquerda radical, além de críticas por seus pactos com os separatistas. A reprovação aumentou ainda mais com a lei de anistia, malvista até mesmo dentro do PSOE.

Para Paloma Roman, cientista política da Universidade Complutense de Madrid, disse que Sánchez tem “talento político” e que a nova aposta “foi bem sucedida”, embora a cientista tenha avisado que o seu novo mandato será “muito complicado”, uma vez que terá que governar com um vasto leque de partidos.

— [Sanchez] nunca teve uma vida fácil — observa Roman sobre a sua situação atual, e reconhece: — [Mas esta é] a mais complicada do que qualquer outra.

Reeleição

Sánchez foi reeleito com maioria absoluta — 179 votos dos 350 deputados. O apoio dos sete legisladores do partido do Junts foi fundamental. Além deles, o Movimento Sumar e as formações regionais Euskal Herria Bildu, Partido Nacionalista Basco (PNV), Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Bloco Nacionalista Galego (BNG) e a Coligação Canária também foram favoráveis à reeleição de Sánchez

Os 171 votos contrários vieram da principal legenda de oposição, o Partido Popular (PP), além da ultradireita do Vox e da União do Povo Navarro (UPN). Armengol se reunirá às 17h30 (horário local) para comunicar o resultado ao rei Felipe Vi. (Com El País e AFP)

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