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Sete em cada 10 adultos atendidos nas unidades de saúde de Passo Fundo estão acima do peso

Das 42.778 pessoas que passaram pelos consultórios médicos das unidades básicas de saúde de Passo Fundo em 2022, 33,6% estão acima do peso, em todas as faixas etárias. Entre os adultos, o número sobe para 74% — índice que representa sete em cada 10 dos atendidos na rede pública de saúde no ano passado. 

O índice está em um levantamento do Ambulatório Qualidade de Vida, especializado em pacientes com sobrepeso e obesidade, com base em dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). O espaço é a opção gratuita de atendimento com acompanhamento multiprofissional especializado em pessoas com sobrepeso e obesas na cidade. Em 2023, já são mais de 700 atendimentos. 

A classificação de sobrepeso significa que uma pessoa pesa mais que o considerado saudável ou normal para a idade, sexo ou altura. Já a obesidade é quando um indivíduo possui gordura corporal em excesso, o que dificulta seus movimentos e rotina de modo geral

De acordo com a médica Débora Falk Lopez Boscatto, que atende no Ambulatório Qualidade de Vida, a maioria dos pacientes que chegam ao local precisa de cirurgia bariátrica ou de redução de estômago, o que envolve preparo físico e um período de espera na fila para a realização do procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

— A obesidade é tratada como um problema estético, os pacientes se culpam muito, mas nós sabemos que é uma doença crônica. Então os pacientes precisam ter acolhimento, tratamento e segmento nesse tratamento — destaca Débora.

Fila para cirurgia bariátrica

Desde 2019, a fila para fazer cirurgia bariátrica estava parada razão da pandemia. Com a retomada do serviço, em março deste ano, 15 pacientes foram chamados para o processo pré-operatório em Passo Fundo, enquanto outras 94 pessoas ainda aguardam sua vez. Os procedimentos são realizados em Porto Alegre, Tenente Portela e, mais recentemente, Santo Ângelo.

Um desses acompanhamentos, realizado desde março, é o da dona Noeli Roque Silva, 62 anos. Entre julho e começo de outubro, a paciente perdeu 14 quilos em preparo para a cirurgia de redução de estômago, prevista para ser realizada em janeiro pelo SUS.

Kímberlly Kappenberg / Agencia RBS
Noeli Rodrigues perdeu 14 quilos enquanto se prepara para a cirurgia bariátricaKímberlly Kappenberg / Agencia RBS

— Você tem que preparar a mente para o que tem que fazer, tem que ter determinação. O atendimento aqui é muito especial, sinto falta na semana que não venho — relata Noeli.

Com desgaste no joelho e a necessidade do uso de bengala, nem mesmo a dificuldade de locomoção impede a paciente de pegar dois ônibus para chegar ao ambulatório.

— Não dá pra faltar, principalmente agora que fui chamada (para a cirurgia). Perder peso ajuda bastante com a dor no joelho. Eu também tinha um pouco de falta de ar quando caminhava e depois que eu emagreci diminuiu bastante.

Driblando os riscos 

A nutrição é um dos eixos de atendimento do ambulatório. O cuidado com a alimentação é essencial para que o Índice de Massa Corporal (IMC) do paciente chegue a um patamar que torne possível o procedimento cirúrgico sem riscos.

— Nosso pacientes, muitas vezes pela questão da rotina, não têm tempo para cozinhar algo saudável e optam por comidas prontas. Além disso, há questões sociais e de saúde mental, às vezes o paciente tem dificuldade de acessar o alimento. Por isso, a gente procura ver o contexto de cada um, suas questões familiares e socioeconômicas — diz a nutricionista Gláucia Boeno dos Santos.

A psicóloga Patrícia Cervieri Mezzomo, que lidera a frente de saúde mental no ambulatório, pontua que tanto o estado físico quanto psicológico dos pacientes influencia muito no processo de perda de peso, que envolve o controle de doenças crônicas, resultado de exames e ajustes na medicação.

— A gente fica muito feliz, depois de toda essa espera, ver os pacientes sendo chamados. Assim como a dona Noeli, muitos conseguiram aderir às orientações justamente depois de serem chamados. Dá aquele ânimo — destaca.

A manicure Cláudia Machado Florêncio, que frequenta o serviço desde fevereiro, conta que descobriu um novo começo nas sessões de terapia. A motivação foi tamanha, que agora ela não vai mais precisar da cirurgia em razão da redução no peso.

— Não é só uma questão de peso. Quero melhorar dentro das coisas que eu tenho pra mim, mas principalmente descobrir quem eu sou, porque é muito difícil tu se olhar, mas não se ver — reflete a paciente.

Serviço

O Ambulatório Qualidade de Vida fica na UBS Independente, na Rua Gomercindo Peruci, 503, bairro Boqueirão. Apesar do endereço, o serviço não tem ligação com a unidade. O paciente é encaminhado para o atendimento especializado após consulta inicial na rede básica de saúde.

Quando necessário, a pessoa entra na fila da cirurgia bariátrica. Após o procedimento, os pacientes são acompanhados por um período no serviço (de acordo com necessidades pós-cirúrgicas individuais), e então retornam para atendimento na atenção básica, nas unidades de saúde de referência.

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