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O debate sobre a PEC dos militares na política pode ser retomado em maio

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 42/2023, a chamada “PEC dos militares na política”, que visa limitar e disciplinar parcialmente a participação de militares na política, vai ser votada em maio, segundo informou à Agência Pública o relator da proposta, o senador Jorge Kajuru (PSB-GO). 

Apuração anterior da Pública mostrou que a demora no avanço do tema passava por uma costura política do general da reserva do Exército e senador Hamilton Mourão (Republicanos), antigo vice-presidente de Jair Bolsonaro (PL), com o próprio vice-líder do governo na Casa, o senador Kajuru (PSB). 

Segundo Kajuru, a votação deve ocorrer após um debate no plenário – ainda sem data definida e que deve contar com a presença dos representantes contrários à proposta, liderados pelo senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), e o governo, favorável à proposta, liderado pelo senador Jaques Wagner (PT).

Além do debate em plenário, uma audiência pública está agendada para a próxima quinta-feira, 25 de abril. Procurada pela Pública, a assessoria do senador Jaques Wagner, líder do governo na Casa, afirmou desconhecer os calendários. Também fontes consultadas na Secretaria de Relações Institucionais (SRI) afirmaram desconhecer o calendário informado pelo senador Kajuru, alegando que o governo ainda não teria uma posição sobre o tema.

Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, Jorge Kajuru expressou sua insatisfação com a falta de comunicação do ministro da Defesa, José Múcio, sobre o tema. O senador Kajuru afirmou à Pública que, se seu relatório não for aceito, “outro deverá ser escolhido”. 

Na Câmara, há outra proposta de teor mais restritivo 

A PEC que propõe que, para se candidatar politicamente a cargos federais, parte dos militares tenha de ir para a reserva sem remuneração é semelhante a outra proposta que está sendo trabalhada pelos deputados federais Carlos Zarattini (PT-SP) e Alencar Santana (PT-SP). 

No entanto, a proposta dos deputados tem teor mais abrangente, pois propõe acabar com as operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLOs) e reescrever o artigo 142 da Constituição para dirimir com interpretações dúbias de que o trecho colocaria os militares como uma espécie de poder moderador. Além disso, a proposta do governo que tramita no Senado não inclui uma restrição para que militares da ativa ocupem cargos de primeiro escalão no governo federal e tem um escopo mais limitado, tratando apenas dos casos de militares da ativa que concorrem a cargos no legislativo federal ou à presidência da República, algo que é vedado no texto dos deputados.

Zarattini chegou a ser convidado para participar de conversas com o governo, inclusive com o ministro da Defesa, José Múcio, mas em agosto declarou ao site O Cafezinho que ficou sabendo do lançamento de uma outra PEC sobre o mesmo tema apenas pela TV.

Também o deputado Alencar Santana afirmou à Pública que ficou sabendo apenas pela TV sobre o lançamento da proposta do governo e que não chegou a participar de nenhuma reunião para ajudar na construção do texto atual, mesmo sendo da base governista e coautor de uma PEC que trata do mesmo tema.

Alencar disse ainda que, desde que o texto do governo foi divulgado no ano passado, não foi chamado para nenhuma reunião sobre o tema. Tanto Alencar quanto Zarattini declararam que têm a intenção de trabalhar no texto que vier do Senado, atuando para que os trechos da PEC articulada por eles sejam incluídos no texto do governo.

Pública apurou também que fontes no governo estariam preocupadas com a tramitação do texto na Câmara dos Deputados, o que seria um dos motivos para o texto estar “travado” no Senado. Segundo essas fontes, o texto poderia acabar se tornando mais “duro” e mais abrangente, o que poderia abrir uma crise com os militares.

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